A doença periodontal (DP) é causada por processos de adesão e agregação bacteriana na cavidade oral, gerando uma inflamação oral que afeta os tecidos que circundam e sustentam os dentes. A condição pode causar sangramento e inchaço das gengivas (gengivite), dor e mau hálito, comprometendo a mastigação, autoestima e a qualidade de vida de quem é acometido por ela. Além disso, a DP está associada a outras patologias sistêmicas como o diabetes mellitus, doenças cardiovasculares, artrite reumatoide e doença pulmonar obstrutiva crônica. Acredita-se que essa relação ocorra por conta da disseminação sistêmica de microrganismos, seus produtos e fatores inflamatórios que aumentam nos tecidos bucais.
É estimado que a DP grave afeta cerca de 19% da população adulta mundial — representando mais de 1 bilhão de casos — e espera-se que sua prevalência aumente nos próximos anos devido ao crescimento da população idosa. Assim, é importante a busca por métodos preventivos e terapêuticos no manejo desta doença e o uso de probióticos tem se mostrado promissor.
Embora o mecanismo de ação dos probióticos na cavidade oral ainda não esteja claramente estabelecido, a literatura científica menciona os seguintes potenciais que os probióticos parecem desenvolver nos cuidados da saúde bucal:
- Redução da contagem de microrganismos patogênicos na boca;
- Modulação da resposta inflamatória;
- Produção de substâncias (ácido lático, peróxido de hidrogênio e bacteriocinas) que inibem o crescimento de patógenos;
- Competição por nutrientes e superfícies de adesão, levando ao deslocamento de patógenos;
- Modificação da composição do biofilme (película fina que envolve os dentes e é formada por microrganismos e toxinas produzidas pelos mesmos).
Um ensaio clínico randomizado controlado por placebo buscou avaliar os efeitos de pastilhas probióticas contendo 10^9 UFC de cepas de Bifidobacterium lactis HN019 como adjuvante no tratamento da raspagem e alisamento radicular (padrão ouro para o tratamento da periodontite) em pacientes com periodontite crônica. O grupo que recebeu as pastilhas probióticas foi orientado a administrá-las duas vezes ao dia (ao acordar e antes de dormir) por 30 dias e, após o período, foram observados os seguintes resultados:
- Níveis de fator anti-inflamatório (interleucina-10) aumentados em relação ao início do estudo;
- Menor proporção de citocinas inflamatórias (IL-8 e IL-1β) em relação ao grupo controle (que não recebeu a suplementação);
- Menor risco de progressão da DP;
- Menor taxa de pacientes com necessidade de tratamento periodontal adicional em mais de três locais;
- Número reduzido de bolsas moderadas e profundas em relação ao grupo controle.
Sendo assim, a terapia probiótica se mostra uma potencial aliada ao tratamento não-cirúrgico de indivíduos com DP, embora seu uso não substitua a técnica diária de higiene bucal. Ademais, ainda são necessários mais estudos que reconheçam cepas específicas com atividade probiótica, assim como a dose exata, tempo de tratamento e os veículos ideais para os cuidados da DP.
Referências
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