A incidência de diarreia associada a antibióticos (DAA) entre crianças varia de 5 a 30%, aumentando o risco de desnutrição dessa população. Este problema de saúde pública levou os pesquisadores a investigarem abordagens alternativas para sua prevenção e tratamento e os probióticos têm se destacado como possível abordagem complementar por apresentarem benefícios à saúde intestinal.
Estudos recentes têm demonstrado que os probióticos podem reduzir a duração e a gravidade da DAA em crianças. Uma pesquisa de alto nível de evidência revisou a literatura científica e, após a análise de 12 estudos, concluiu que a suplementação com Lactobacillus rhamnosus LGG, comparada ao placebo ou nenhum tratamento, é eficaz na prevenção da DAA em crianças, além de apresentar boa tolerabilidade.
Já um ensaio clínico realizado com pacientes de 3 meses a 18 anos em terapia antibiótica buscou avaliar se um sachê com múltiplas espécies probióticas (B. bifidum W23, B. lactis W51, L. acidophilus W37, L. acidophilus W55, L. paracasei W20, Lactiplantibacillus plantarum W62, L. rhamnosus W71 e L. salivarius W24) seria eficiente na prevenção da DAA. Os participantes administraram os probióticos duas vezes ao dia durante todo o tratamento com antibiótico e por 7 a 17 dias após a finalização da terapia. Ao final do estudo, os pesquisadores observaram que o uso dos probióticos reduziu o risco geral de diarreia durante a antibioticoterapia e 7 dias após o final do tratamento e houve menor necessidade de reidratação intravenosa relacionada ao quadro diarreico.
Os probióticos atuam promovendo o equilíbrio da microbiota intestinal a partir de mecanismos já elucidados: competição com patógenos por nutrientes e espaço na mucosa intestinal, produção de substâncias antimicrobianas e fortalecimento da barreira intestinal. Além disso, os probióticos podem modular o sistema imune e, assim, aumentar a produção de anticorpos e a atividade de células de defesa.
Para que os probióticos sejam eficazes, é crucial escolher espécies específicas com evidência científica comprovada e administrá-las em dose adequada. As principais espécies probióticas utilizadas para a prevenção e tratamento da DAA são lactobacilos (L. rhamnosus, L. acidophilus, L. plantarum, L. casei, L. lactis e L. bulgaricus), bifidobactérias (B. longum, B. infantis e B. breve), Streptococcus. thermophilus e Saccharomyces boulardii. Consultar um profissional de saúde antes de iniciar uma suplementação probiótica é fundamental para garantir a segurança e eficácia do tratamento.
Por fim, o uso de probióticos representa uma abordagem promissora e segura para a prevenção e tratamento da DAA em crianças.
Referências
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