
A fibromialgia é definida como um distúrbio crônico caracterizado por dor musculoesquelética generalizada, acompanhada de sintomas como rigidez matinal, fadiga moderada ou grave, depressão, dores de cabeça, distúrbios do sono e desconfortos gastrointestinais. Também são comuns déficits cognitivos, como esquecimento, dificuldade de concentração, perda de vocabulário e lentidão mental. Apesar de sua etiologia ainda não ser completamente compreendida, estudos recentes sugerem que a microbiota intestinal pode desempenhar um papel fundamental na patogênese da doença.
O eixo intestino-cérebro tem sido um foco crescente de pesquisa, evidenciando que a saúde intestinal pode interferir no funcionamento cerebral e modular funções cognitivas e emocionais. Nesse contexto, novas estratégias terapêuticas para distúrbios relacionados à disfunção cerebral têm sido exploradas, com o uso de probióticos despontando como uma abordagem promissora.
Um ensaio piloto randomizado, controlado e duplo-cego avaliou se a suplementação de um probiótico multiespécies (Lactobacillus rhamnosus GG, L. casei, L. acidophilus e Bifidobacterium bifidum) por oito semanas poderia melhorar a cognição, sintomas emocionais e o estado funcional de adultos diagnosticados com fibromialgia. Ao final da intervenção, o grupo probiótico mostrou significativamente menos escolhas impulsivas do que o grupo placebo, enquanto ambos os grupos apresentaram desempenho semelhante no início do estudo. Esse resultado sugere que os probióticos podem contribuir para melhora cognitiva, especificamente relacionada à escolha impulsiva e tomada de decisões.
Além dos efeitos sobre a cognição, há indícios de que a modulação da microbiota intestinal pode ter impacto positivo na redução da inflamação sistêmica de baixo grau, um fator que pode contribuir para a intensificação dos sintomas da fibromialgia. Estudos apontam que certas cepas probióticas, principalmente lactobacilos e bifidobactérias, podem modular a expressão de citocinas inflamatórias, reduzindo a percepção da dor e melhorando a qualidade de vida dos pacientes.
Embora os achados sejam promissores, as evidências científicas ainda são limitadas quanto ao uso de probióticos como terapia complementar para a fibromialgia. Mais pesquisas são necessárias para esclarecer as melhores doses, duração do tratamento e quais cepas podem ser mais eficazes no manejo dos sintomas. O avanço nesse campo pode representar uma nova perspectiva no cuidado de pacientes com fibromialgia, trazendo uma abordagem mais integrativa e personalizada para essa condição complexa.
Referências
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