
O transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é caracterizado por sintomas como a desatenção, hiperatividade e impulsividade, impactando o desempenho escolar, profissional e as relações sociais. Além disso, está frequentemente associado à desregulação emocional. O tratamento convencional envolve o uso de medicamentos por longos períodos, que, apesar de ajudarem a controlar os sintomas, podem causar efeitos colaterais indesejados.
Estudos recentes têm investigado o papel da microbiota intestinal na modulação de sintomas neurocognitivos e comportamentais, levando a um crescente interesse sobre o impacto dos probióticos no manejo do TDAH.
Uma revisão sistemática de ensaios clínicos conduzidos em crianças avaliou a relação entre probióticos e sintomas do TDAH. Os resultados indicaram que algumas cepas, como Lactobacillus rhamnosus GG e Bifidobacterium bifidum, podem reduzir o risco de desenvolvimento do transtorno e aliviar sintomas já presentes.
Um estudo clínico randomizado, duplo-cego e controlado por placebo foi realizado ao longo de 12 semanas com crianças de 6 a 12 anos. O objetivo foi avaliar o impacto da suplementação de Bifidobacterium bifidum Bf-688 como terapia complementar ao tratamento medicamentoso do TDAH. O grupo que recebeu a suplementação (dois sachês ao dia, de manhã e à noite) apresentou melhora significativa na atenção visual e auditiva ao final do período.
Outro estudo, conduzido ao longo de 9 semanas, avaliou adultos e crianças com TDAH. Os participantes receberam um simbiótico contendo Pediococcus pentosaceus LMG P20608, Lactobacillus casei ssp. paracasei F19, Lactobacillus plantarum 2362, além de betaglucana, inulina, pectina e amido resistente. Os resultados mostraram que, nos adultos, houve melhor regulação emocional, sugerindo que a suplementação pode beneficiar diferentes faixas etárias.
O mecanismo por trás dessa relação parece estar ligado ao eixo intestino-cérebro, um complexo sistema de comunicação entre o meio intestinal e o sistema nervoso central. A modulação da inflamação, a produção de neurotransmissores e a melhora da integridade da barreira intestinal são algumas das hipóteses levantadas para explicar os efeitos positivos observados após a suplementação de probióticos no TDAH.
Diante dessas descobertas, a inclusão de probióticos no tratamento do TDAH pode representar uma estratégia complementar promissora, especialmente quando associada a uma alimentação equilibrada e um estilo de vida saudável. Profissionais da saúde devem acompanhar de perto as novas pesquisas para oferecer recomendações cada vez mais embasadas e eficazes.
Referências
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