Estamos no Agosto Dourado, que é a campanha de conscientização sobre a importância da amamentação. Apesar dos benefícios da amamentação serem frequentemente reforçados pelos profissionais da saúde, as taxas de iniciação e duração da mesma continuam menores do que o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Muitos fatores influenciam na taxa de adesão à amamentação e um dos principais motivos para o desmame precoce está associado às complicações que ocorrem durante a lactação, como a mastite.
Mastite é uma inflamação com ou sem infecção que ocorre na mama, podendo causar muita dor à mulher e até a formação de abscesso. Ela atinge até 33% das puérperas e afeta tanto a saúde física, quanto mental, da mãe. Devido ao abuso de antibióticos e consequente resistência de microorganismos, o uso de antibióticos profiláticos após o parto não se mostra protetor. Assim, vêm sendo realizadas novas buscas por tratamentos eficazes e seguros para prevenir e auxiliar no tratamento de mastite.
A literatura científica já demonstrou a capacidade que certas cepas probióticas têm de equilibrar a microbiota do leite materno, podendo reduzir fatores inflamatórios e, assim, a incidência e melhora dos sintomas da mastite em lactantes. Dessa forma, os probióticos ganharam destaque nesta área.
Um estudo randomizado, duplo-cego e controlado por placebo foi conduzido com mulheres no pós-parto que estavam amamentando e haviam recebido o tratamento preventivo com antibiótico na véspera do parto e 48 horas depois do nascimento do bebê. Essas mães receberam cápsulas contendo Lactobacillus fermentum CECT5716(cepa isolada do leite materno de mulheres saudáveis que demonstrou poderosa atividade imunoprotetora) uma vez ao dia por 16 semanas. Após o período, foi observada uma redução de 51% na taxa de incidência de mastite e uma diferença significativa no terceiro mês de suplementação no uso de analgésicos relacionados aos sintomas nas mamas, que foi menor entre as mulheres que receberam os probióticos em relação às que receberam placebo.
Em outro estudo, mulheres grávidas com histórico de mastite lactacional após pelo menos uma gravidez anterior receberam uma cápsula diária contendo cepas de Lactobacillus salivarius PS2. A suplementação foi administrada desde, aproximadamente, a 30ª semana gestacional até o parto. Ao final do estudo, apenas 25% das mães suplementadas desenvolveram mastite, contra 57% das mães que receberam placebo.
Embora ainda sejam necessárias mais pesquisas a respeito de quais cepas probióticas e respectivas doses utilizar na suplementação de lactantes, as evidências já existentes sugerem que os probióticos não estão associados a riscos de saúde tanto para a mãe, quanto ao bebê, demonstrando sua segurança.
Referências
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