Diariamente tomamos decisões simples como quando, quanto e o que comer. Infelizmente, com rotinas comumente exaustivas, se tornou comum o ato de comer sem atenção às refeições e ao próprio corpo, o que dificulta no reconhecimento das sensações de fome e saciedade. Enquanto a fome influencia na busca pelo alimento, a saciedade é o processo de cessar o ato de comer e ambas sofrem influências da cognição e do trato gastrointestinal. Dessa forma, pesquisas científicas vêm explorando as relações entre a saúde intestinal e a regulação da fome e saciedade.
Evidências atuais revelam os possíveis efeitos dos probióticos e simbióticos em vários fatores relacionados à saciedade, incluindo a leptina (hormônio produzido pelas células do tecido adiposo e confere sensação de saciedade).
Algumas cepas probióticas parecem ter o potencial de reduzir os níveis deste hormônio no sangue, entretanto o mecanismo exato ainda não está claro. Possíveis mecanismos foram descritos na literatura científica:
- Regulação da expressão de leptina no cérebro;
- Redução da secreção de leptina pelo tecido adiposo;
- Menor circulação da leptina entre intestino e fígado (mecanismo associado principalmente aos gêneros Bifidobacterium e Lactobacillus);
- Redução do peso corporal;
- Modulação de processos inflamatórios.
Um estudo duplo-cego randomizado e controlado por placebo foi realizado com 89 pacientes com doença hepática gordurosa não alcoólica a fim de identificar os possíveis efeitos dos probióticos e prebióticos sobre marcadores sanguíneos relacionados ao controle da glicemia. Os participantes foram divididos em três grupos: 1) probiótico (cepas de L. casei, L. rhamnosus, L. acidophilus, B. longum e B. breve com 16g de maltodextrina), 2) prebiótico (16g de oligofrutose) e 3) placebo (16g de maltodextrina).
Após 12 semanas de intervenção, os grupos probiótico e prebiótico apresentaram concentrações de leptina e insulina reduzidas no sangue –- hormônios que podem influenciar no apetite.
Em relação à avaliação dos níveis de fome, em outra pesquisa que também seguiu o método duplo cego randomizado e controlado por placebo, pesquisadores do Quebec buscaram avaliar se cepas de L. rhamnosus CGMCC1.3724 poderiam influenciar no comportamento alimentar e humor de indivíduos com obesidade submetidos a um programa de redução de peso.
Ao final de 24 semanas, as mulheres que receberam a suplementação probiótica apresentaram menor sensação de fome quando comparadas às mulheres que receberam placebo, enquanto nos homens não houve diferença significativa.
Em conclusão, o meio intestinal se mostra um potencial alvo terapêutico quando há a necessidade de equilibrar o apetite. Embora sejam necessários mais estudos científicos nesta área, os probióticos parecem ser uma estratégia promissora para auxiliar os indivíduos que precisam regular as sensações de fome e saciedade.
Referências
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