A partir do segundo mês de gestação ocorrem alterações hormonais no corpo da mulher que podem levar à resistência à insulina (RI) e à sobrecarga de células específicas do pâncreas que secretam insulina (hormônio responsável pelo controle glicêmico). O resultado destas alterações é a elevação da glicemia e intolerância à glicose.
O Diabetes Mellitus Gestacional (DMG) é definido como qualquer grau de intolerância à glicose com início durante a gestação. Mulheres que desenvolvem a doença são mais suscetíveis a outras condições de saúde, como a eclâmpsia (episódios de convulsão), intercorrências durante o parto e até mesmo ao risco de diabetes tipo 2 (DM2) e doenças cardiovasculares após a gestação. O DMG também interfere na saúde do bebê, que pode apresentar macrossomia (alto peso ao nascer), maior risco de morte neonatal e ainda desenvolver doenças cardiometabólicas, distúrbios respiratórios, DM2 e obesidade.
Sabe-se que a saúde intestinal tem papel crucial no controle da glicemia. No intestino habitam bactérias que produzem ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) que, em quantidades normais, podem regular o metabolismo da glicose e aumentar a sensibilidade dos tecidos à ação da insulina, melhorando a RI. Os probióticos podem, além de otimizar a produção de AGCC, modular processos inflamatórios e, consequentemente, a glicemia e a RI.
Dois estudos de alto nível de evidência (revisões sistemáticas e meta-análises de ensaios clínicos randomizados) publicados em 2023 associaram a administração de probióticos para mulheres com DMG com a redução da glicemia e insulina de jejum, sugerindo a melhora da RI. As cepas probióticas mais comuns utilizadas foram Lactobacillus acidophilus, Lactobacillus casei e Bifidobacterium bifidum e as intervenções iniciaram a partir da 4ª semana gestacional. Nenhum efeito adverso grave foi relatado.
Por seis semanas, 60 mulheres foram randomizadas para receber probióticos (L. acidophillus, L. casei e B. bifidum – cada cepa em quantidade equivalente a 2×10^9 UFC) ou placebo a fim de avaliar o efeito das cepas sobre o DMG. Todas as participantes foram orientadas a não alterar a alimentação, suplementação e exercícios habituais durante o período de intervenção. Ao final do estudo, nas mulheres que utilizaram os probióticos, foram avaliadas reduções significativas na glicemia de jejum, insulina e índices HOMA-IR e HOMA-B com aumento do QUICKI (sensibilidade à insulina). Esses resultados novamente sugerem a melhora da RI e, consequentemente, de marcadores fundamentais para os cuidados com o DMG.
Assim, além do uso de medicamentos específicos para o tratamento do DMG, alimentação regulada e prática de exercícios físicos, os probióticos parecem ser uma estratégia complementar aos cuidados da mãe e do bebê.
Referências
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