O Transtorno do Espectro Autista (TEA) engloba condições marcadas por algum grau de comprometimento no comportamento social, na comunicação e na linguagem que podem limitar significativamente este indivíduo na realização das atividades diárias e participação da sociedade. Globalmente, é estimado que 1 em cada 100 crianças têm TEA e esta prevalência vem crescendo — como se pode observar nos Estados Unidos que, entre 2000 e 2002, estimaram a prevalência do TEA em 1 a cada 150 crianças e, em 2016, o número aumentou para 1 em 54.
Os cuidados com a saúde das pessoas com TEA são complexos e requerem uma rede familiar e médica integrada. Como o transtorno possui alta prevalência de sintomas gastrointestinais (GI) e já se sabe que o intestino se relaciona com o cérebro através do eixo intestino-cérebro, muitas pesquisas científicas começaram a explorar os possíveis efeitos terapêuticos da suplementação de probióticos tanto sobre os desconfortos GI, quanto sobre os aspectos comportamentais.
Em uma universidade na China, 16 crianças com idade entre 3 e 9 anos diagnosticadas com TEA receberam uma suplementação de probióticos com frutooligossacarídeos (FOS) durante até 108 dias. A mistura probiótica incluiu as seguintes cepas: Bifidobacterium infantis Bi-26, Lactobacillus rhamnosus HN001, Bifidobacterium lactis BL-04 e Lactobacillus paracasei LPC-37. A partir do 60º dia de tratamento, a pontuação do ATEC (escala de avaliação do tratamento do autismo) reduziu significantemente, sendo que no 108º dia foi possível avaliar uma melhora significativa neste escore nos aspectos relacionados à comunicação e sociabilização. Além disso, também melhoraram os scores de constipação, diarreia e odor das fezes após a intervenção.
Outro estudo duplo-cego, randomizado e controlado por placebo foi conduzido por 4 semanas com meninos com TEA de idade entre 7 e 15 anos. Após o período de suplementação com cepas de Lactobacillus plantarum PS128, as pontuações associadas à ansiedade, comportamentos de quebra de regras, hiperatividade e impulsividade melhoraram.
Ademais, em revisão sistemática e meta-análise, foi apontado que a suplementação de psicobióticos, ou seja, probióticos que conferem benefícios à saúde mental do hospedeiro, podem melhorar a função cerebral no TEA a partir da redução de marcadores de inflamação (TNFα). Esse resultado sugere que a interação da microbiota intestinal do hospedeiro com os probióticos administrados pode interferir positivamente em aspectos químicos cerebrais do paciente com TEA.
Inúmeros estudos científicos demonstram a melhora dos aspectos psíquicos e GI do TEA com a suplementação de probióticos e muitas hipóteses são levantadas para justificar tais resultados. Embora ainda sejam necessárias pesquisas mais profundas para determinar quais cepas e doses são eficientes como suporte complementar para melhorar a qualidade de vida das pessoas com TEA, os probióticos têm se mostrado um caminho promissor a esta finalidade.
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