O câncer de mama (CM) é uma doença caracterizada pela multiplicação de células de maneira anormal na mama que geram a formação de um tumor com potencial de invadir outros órgãos. Atualmente é a forma de câncer mais diagnosticada no mundo, sendo responsável por quase 12% de todos eles. Além disso, é a principal causa de mortalidade por câncer entre as mulheres e, apenas em 2023, foram estimados mais de 73 mil novos casos no Brasil.
Considerando a importância a nível global do CM, estudos são conduzidos frequentemente a fim de reduzir os casos da doença e de ofertar tratamentos com maiores índices de sucesso. Nos dias de hoje, a microbiota intestinal (MI) tem sido apontada como uma possível influência em alguns casos de câncer. No caso do CM, as bactérias intestinais exercem influência na quantidade de hormônios livres (principalmente o estrogênio) disponíveis para a absorção intestinal. Quando o estrogênio livre está elevado, ele pode contribuir ao risco de desenvolvimento de câncer — dentre eles o CM. Assim, o papel da saúde intestinal e os efeitos dos probióticos vêm ganhando destaque nos estudos científicos a respeito desta doença.
Uma revisão da literatura científica investigou o potencial dos probióticos sobre a prevenção e tratamento do CM e concluiu que, embora ainda existam poucos estudos em humanos diagnosticados com a doença, é possível que os probióticos reduzam o risco do desenvolvimento do CM através do potencial de modular a resposta imune do organismo. Ademais, o estudo demonstrou que produtos lácteos fermentados (ricos em compostos benéficos à MI e bactérias probióticas) podem atuar inibindo a ação de enzimas bacterianas (b-glucuronidase, nitroreductase e azoredutase) que podem aumentar o estrogênio livre no intestino e parecem estar envolvidas no prognóstico do CM.
Estudo de caso-controle realizado no Japão com 306 casos de CM e 662 controles buscou avaliar se o consumo desde a adolescência de bebidas contendo Lactobacillus casei Shirota afetaria a incidência de CM. Através de um questionário autoaplicável e entrevista, os pesquisadores concluíram que o consumo diário destas cepas foi associado à redução de ocorrência precoce de CM em mulheres japonesas.
Embora evidências definitivas da suplementação de probióticos em humanos diagnosticados com CM ainda sejam escassas, os estudos indicam que o microbioma intestinal pode exercer influências sobre o desenvolvimento e prognóstico desta doença e que probióticos podem exercer outros benefícios para a qualidade de vida. Novas pesquisas na área visando uma maior compreensão a respeito de cepas e dosagem de probióticos estão em andamento e devem elucidar melhor esta questão nos próximos anos.
Referências
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