O sono é uma função biológica essencial que desempenha um papel importante
nos processos fisiológicos que promovem a recuperação física, apoiam o
desenvolvimento neurológico, aumentam as funções cardíacas, imunológicas e
metabólicas, além de melhorar a cognição e o humor.
O comprometimento do sono se torna cada vez mais reconhecido como
problema global de saúde pública, ao se associar com aumento do risco de
desenvolvimento de doenças crônicas como obesidade, diabetes tipo 2, doenças
cardíacas, alguns tipos de câncer e doenças mentais.
O tratamento de distúrbios crônicos do sono pode envolver uma combinação de
terapias, que geralmente se iniciam com estratégias não farmacológicas. A interação
por meio do eixo intestino-cérebro sugere que a modificação do ambiente microbiano
intestinal por meio da suplementação com microrganismos vivos (probióticos) pode
melhorar a saúde do sono.
De fato, foi demonstrado que alterações no microbioma influenciam a produção
de triptofano livre que, por sua vez, impacta a disponibilidade de serotonina. Quando a
produção de triptofano é aumentada, podem haver efeitos positivos no humor e o bem-
estar psicológico, melhorando também o sono, pois a serotonina é utilizada para
produzir melatonina; hormônio importante para ajudar a regular os ciclos de sono /
vigília.
Wong et al., descobriram recentemente que a suplementação de probióticos
durante 6 semanas em indivíduos com síndrome do intestino irritável (SII) aumentou os níveis de melatonina salivar. Outros estudos demonstram que pessoas saudáveis ou que passaram por períodos crônicos de privação de sono também podem se beneficiar do uso de probióticos para melhora da qualidade do sono.
Além do eixo intestino-cérebro, probióticos atuam sobre a atividade intestinal,
podem aumentar a competição com bactérias patogênicas e, por meio de seus
metabólitos, influenciam respostas imunológicas:
Ácidos graxos de cadeia ramificada podem suprimir citocinas pró-
inflamatórias e interagir com células T reguladoras para atenuar
processos inflamatórios;
Polissacarídeos influenciam a atividade de interleucinas;
Ácido gama-amino butírico (GABA) produzido pela microbiota intestinal
pode influenciar o sistema nervoso central através do nervo vago e
influenciar o sono;
Indoles estimulam a produção de citocinas e peptídeos antimicrobianos,
desempenhando assim um papel protetor contra patógenos;
A ligação intrínseca do sono com o sistema imunológico produz efeitos diversos
que são impactados pela microbiota. Citocinas representam uma interface crítica
potencial entre a fisiologia do sono e a composição do microbioma intestinal. As
citocinas da via de fase aguda IL-1β e IL-6, em particular, estão fortemente associadas
à fisiologia do sono e IL-1β é um importante fator promotor de sono.
Existem resultados promissores com a suplementação de probióticos para
melhora do sono. Embora recomendações específicas ainda não tenham sido
estabelecidas, a administração de várias cepas de Lactobacillus e Bifidobacterium
longum melhorou a qualidade do sono, e o microbioma intestinal com maior proporção
de bactérias dos filos Verrucomicrobia e Lentisphaerae também se associa a
parâmetros positivos do sono.
A ampla riqueza e diversidade da microbiota correlacionam-se positivamente
com a eficiência e tempo total de sono. Nesse sentido, a qualidade e a duração do
sono podem ser um alvo importante para apoiar a composição saudável da microbiota
intestinal, considerando também a natureza cíclica dessa relação.